domingo, 1 de abril de 2012

Reportagens e músicas... o que elas podem nos apresentar?

O Brasil apresenta diferentes culturas, variadas colocações formais e informais, diversos comportamentos, crenças, valores, vestuários, danças, tradições... A diversidade cultural é sinônimo de inclusão, riqueza, união e tolerância. Sendo mais uma forma de oportunizar que todos possam expressar-se e ser respeitado. Diferença jamais poderá ser considerada inferioridade.
Contudo, a diversidade cultural e humana nada tem haver com igualdade. Haja vista que a gênese brasileira foi realizada baseada na exclusão, sem concordância entre negros, brancos e indígenas.
O Brasil é um país rico, porém somos campeões em desigualdades – e, nesse sentido, é essencial destacarmos as questões de gênero e raça.
A palavra racismo faz alusão à raça, intolerância, ódio, preconceito, domínio, segregação, repetição, ignorância... Há, equivocadamente, o pensamento de que algumas raças são superiores às outras. Tudo isso, poderia levar a acreditar que esses fenômenos – preconceito, descriminalização, desigualdade – são constituídos de maneira natural, intrínseco às relações humanas, reafirmando aquilo que Thomas Hobbes relatou: “o homem é o lobo do homem”, isto é, que os seres humanos são maus por sua própria natureza. Porém, sabe-se que esses fenômenos são elementos construídos historicamente, podendo, portanto, serem abolidos de nossa sociedade.
No decorrer dos estudos propostos pelo Curso de Formação em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça foi citado os estudos do sociólogo Florestan Fernandes, que destacou: “o preconceito é um esforço deliberado das oligarquias dominantes de manter os privilégios raciais vigentes na sociedade escravista, na qual posições sociais eram herdadas tendo como base o pertencimento racial”. Fernandes afirmou ainda que, no Brasil, há o preconceito em se ter preconceito, ou seja, as pessoas recusam-se a admitir que possuem preconceitos.
Neste sentido, é possível atrelar os estudos realizados por Fernandes, a uma reportagem apresentada recentemente pelo Programa “CQC”, da TV Bandeirantes. A matéria entrevistava os cidadãos nas ruas, questionando acerca de diversos assuntos – todos que envolviam questões culturais e raciais. Assim, algumas indagações eram realizadas, como por exemplo: quem você contrataria para ser babá de seu filho: uma pessoa negra ou uma branca? Neste momento, uma entrevistada disse que: “contrataria a branca, porque o negro mora na favela e, não sabe cuidar de criança”.
Outro questionamento realizado foi: quem você escolheria para ser seu vizinho: um europeu ou um africano? Uma pessoa entrevistada afirmou: “o europeu lógico”. E, quando indagada pelo motivo, respondeu: “deixa o africano na África”.
É válido ressaltar que as transcrições não foram realizadas fielmente. Diversas outras perguntas foram realizadas e, com exceção de uma pessoa, todas os demais entrevistados foram extremamente preconceituosos.
Outra matéria vinculada neste mesmo programa, possuía como participantes pessoas comuns, porém com trajes diferentes, além de ter apenas um negro. As pessoas que passavam pela equipe de reportagem eram paradas e indagadas: “quem desses é o favelado?” ou “quais dessas pessoas são bem sucedidas?”. As respostas não precisamos nem mesmo apresentar...
Ao final das reportagens o jornalista perguntava: “você se considerava uma pessoa preconceituosa?”, todos responderam que não... Esta reportagem é um exemplo do preconceito em ser ter preconceito. Demonstra claramente como as pessoas naturalizam os preconceitos e os paradigmas.              
A discriminação contra os negros é baseada em um estigma identificado em sua aparência, ou seja, pela cor da pele, formato dos lábios, do nariz, textura dos cabelos... Assim, os traços físicos mais próximos aos dos brancos são os valorizados, vistos como beleza e superioridade. É possível notar tais afirmações ao nos deportarmos para os padrões de belezas impostos pela nossa sociedade. Observa-se que os cabelos precisam ser lisos ou alisados, narizes afilados... As lentes de contato são utilizadas, para que as pessoas possam ter momentaneamente olhos claros, assim como os europeus. Tais ações são resultados do processo de embranquecimento, colocado em prática diariamente.
Algumas letras de músicas são importantes para realizarmos análises da realidade. Um ótimo exemplo é a canção da banda “O Rappa”: “Todo Camburão tem um pouco de navio negreiro”. A letra relata a realidade enfrentada pelos negros, e, como diz a música: quem segurava com força a chibata, hoje sofre com a repressão, com a abordagem preconceituosa dos policiais, com a cobertura da impressa e, com os demais problemas sociais.
Neste mesmo sentido, a música dos Racionais MC´s – “A Vida é Desafio”, cuja letra diz que: “(...) desde cedo a mãe da gente fala assim: ‘filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor.` Aí passado alguns anos eu pensei: Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicoses... por tudo que aconteceu. Duas vezes melhor como? (...) 500 anos de Brasil e o Brasil nada mudou (...)”.
Até quando continuaremos tendo preconceito em ter preconceito? Quando assumiremos que a nossa sociedade é preconceituosa? Quando compreenderemos que a diversidade é sinônimo de riqueza?
Como a letra dos Racionais MC´s aborda, nós nunca reparamos o sofrimento passado pelos negros durante a escravidão. Não há convívio sadio entre as raças: os negros ainda sofrem mais com o desemprego, com a falta de oportunidade, com o acesso aos direitos. Vale ressaltar que a segregação nos espaços públicos ainda existe.   
  Ademais, os homens brancos, chamados ironicamente de civilizados, não respeitam (em nenhum aspecto) a cultura indígena: invadem suas terras e interferem na vida cotidiana dos mesmos. Que tipo de harmonia é essa, onde negros devem morar nas favelas/guetos e só saírem de lá para irem aos seus trabalhos? A segregação e a visão de embranquecimento (ambos velados) estão sendo perpetuadas...

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