sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Evasão escolar e homossexualidade

Imagem extraída de http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2009/9/homofobia_aumenta_numero_de_casos_de_evasao_escolar_33747.html
É fato comprovado que a maioria dos homossexuais acabam abandonando a escola. Isso ocorre devido ao preconceito e a discriminação presente no ambiente escolar. Em uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 13 capitais do país e no Distrito Federal, no ano de 2004, 25% dos alunos afirmaram que não gostariam de estudar com um homossexual. Além disso, 20% dos pais disseram não querer na sala de aula do filho, um homossexual (POTY, 2009).
Os números assustam. A evasão escolar entre os homossexuais é grande, e os travestis são os que sofrem maior preconceito. A maioria acaba desistindo da escola por causa do preconceito, da discriminação e da perseguição que sofrem por colegas e professores. Na maior parte das vezes, ações discriminatórias passam impunes, sem a intervenção de ninguém. Em pleno século XXI, ainda é comum temas importantes que não são abordados pelas escolas, vistos pelos professores como tabus (AMARAL NETO, 2011).
Assim, às vezes, o professor não sabe lidar com a situação, e em outras, o preconceito está nele mesmo. A aceitação e valorização das diferenças ainda é uma atitude rara nas escolas, que tem por costume tentar padronizar a todos. A violência diante da diferença é enorme e nem sempre é física ou fácil de detectar. Entretanto, o professor, como mediador do processo de aprendizagem, precisa aprender a identificar e lidar com a questão.
A sociedade, e a escola como instituição social, acredita na existência de uma único padrão comportamental: o heterossexual. Outras formas de comportamento são vistos como não naturais. Entretanto, as recentes pesquisas nas áreas sociais têm dito que o comportamento é construído pela sociedade. Não há, neste sentido, um comportamento inerente ao ser humano, é a sociedade que dita os comportamentos esperados de cada gênero.
Dessa forma, gênero e sexo, são, a luz da ciências, conceitos distintos, pois sexo é relativo a natureza animal, masculino ou feminino, o que abrange as características físicas e biológicas da espécie. Gênero é tudo relativo às expectativas e construções sociais que a sociedade impõe aos seres humanos. Isso significa que, conforme nos fala NADER (2011), a sociedade exige de cada sexo um tipo de comportamento, desenvolvendo uma ideia de heteronormalidade, ou seja, que o normal, o natural e o saudável é ser homossexual.
Essa ideia se encontra arraigada no imaginário social e a escola, como fragmento social, termina por perpetuar tal visão. Muitas ações têm sido tomadas contra esse tipo de preconceito, especialmente dentro do programa do Ministério da Educação (MEC) Brasil sem Homofobia. A produção de materiais didáticos voltados para o assunto, visando capacitar professores para trabalhar com a temática teve inicio desde 2005 (BRASIL, 2011).
Muitos profissionais ainda acham que homossexualidade é doença, que os homossexuais precisam de tratamento, que o aluno homossexual precisa de tratamento psicológico, quando não de umas boas correções dos pais ou responsáveis. A ideia das propostas é educar os profissionais envolvidos na educação para que possam agir diante das piadas preconceituosas, dos cochichos nos corredores, na exclusão dos homossexuais e saibam o que fazer diante das agressões físicas e psicológicas pelas quais passa os alunos homossexuais.
As atitudes de exclusão, preconceito, discriminação e violência têm impacto direto sobre a autoestima dos alunos homossexuais, sobre o entendimento da sociedade e sobre o rendimento escolar dos mesmos. Muitos passam a odiar o espaço escolar e a aprendizagem não acontece. Na maior parte das vezes, a situação se torna tão insuportável que o aluno opta por mudar de escola ou mesmo abandonar o espaço escolar.
Vários cursos estão sendo ofertados, desde 2005, para os professores sobre sexualidade, diversidade cultural e sexual como forma de que esses profissionais possam interferir nos casos de homofobia. Muitos livros didáticos já estão sendo voltados para a temática da diversidade sexual e cultural. Até pouco tempo, muitas publicações possuíam em seu contexto conceitos discriminatórios. Atualmente, a questão vem sendo abordada, mesmo que ainda tais mudanças tenham acontecidos a passos muito lentos.
Entretanto, a questão exige abordagem rápida. Os estudantes homossexuais têm seu desempenho escolar afetado e precisam de mudanças urgentes. Segundo artigo publicado pela Associação Lésbica de Minas (2009), a escola, que deveria ser um espaço de proteção social, de democracia e de valorização das diversidades precisa se atualizar de forma cada vez mais dinâmica a fim de tornar a sociedade um espaço de tolerância e respeito às diferenças.
Enquanto as escolas não adotarem uma postura de inserção dos estudantes homossexuais em seu contexto, enquanto não promoverem as políticas de valorização da diversidade, será grande o número de homossexuais fora das salas de aulas. É preciso promover uma transformação no cotidiano escolar e para isso, é preciso que os profissionais da educação busquem conhecer mais as políticas públicas voltadas para gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AMARAL NETO, Castúlio do. Diários escolares: Fragmento e memórias de homossexuais no cotidiano escolar. Disponível em: <http://www.armariox.com.br/documentos/textoeducargls.doc>. Acesso em: 24 ago. 2011.

Associação Lésbica de Minas. Homossexuais enfrentam preconceitos diários nas escolas. Minas Gerais, 2009. Disponível em: <http://www.alem.org.br/modules/news/article.php?storyid=98>. Acesso em: 24 ago. 2011.



BRASIL. Ministério da Educação. Programa Brasil sem Homofobia. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf>. Acesso em 24 ago. 2011.


NADER, Maria Beatriz. Gênero, Sexo e Sexualidade. Disponível em: <http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid1.html>. Acesso em: 24 ago. 2011.

POTY, Clarissa. Preconceito afasta homossexuais da escola. Rio de Janeiro: O Dia, 2009. Disponível em: <http://www.portalodia.com/noticias/piaui/preconceito-afasta-homossexuais-da-escola-12561.html>. Acesso em 24 ago. 2011.

"Na essência somos iguais, nas diferenças nos respeitamos."
(Santo Agostinho)

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